segunda-feira, 8 de março de 2010

Segunda de Parque


A Segunda-feira hoje amanheceu com cara de Domingo de parque. O reflexo da luz do sol pelas frestas da janela, veio dar bom dia a moradora da caixa azul logo cedo. Junto a ela, o canto dos pássaros (em meio aos edifícios e ao cinza de SP, da moldura bege se avista uma pequena mata). Uma das coisas que mais me chama atenção nessa mata, é uma árvore de flores roxas a contrastar com todo o degradê em verde do restante. A primeira coisa que gosto de fazer ao acordar é escancarar os quatro cantos da janela, de lá eu fico alguns segundos sentindo o vento que mesmo em dia de sol, é frio. É engraçado a paz que sinto na caixa azul, um paradoxo, paz do campo e correria de cidade grande. Contemplar a dança das árvores, ao bater do martelo, o roncar do motor do avião, o assobio dos lavadores de carro, o acelerar das motos, tudo, fazendo musica com o canto dos pássaros, vira poesia. E poesia me lembra Domingo… E hoje, realmente é Segunda-feira com cara de Domingo, com direito a almoço conjunto com as outras moradoras das caixas amarela, rosa, branca e a mais nova moradora de uma caixa ainda em construção, que compõem a prateleira do apto 62. Na prateleira 62, tem arquiteta que abandonou o emprego, publicitária a procura de um, produtora de eventos que não para em casa, quase mestre em blablablamimimi políticas e agora uma estudante/música que se encaixotou na sala. Fora da caixinha azul e da prateleira 62, a vida em SP ainda assim, continua uma caixinha, de surpresas claro! Um dia a gente sai pra olhar móveis rapidinho e acaba vendo o sol nascer no desfile de escola de samba... 

sexta-feira, 5 de março de 2010

o Enquadramento


Hoje fazem exatos 16 dias de janela. 16 dias que parecem meses, meses que parecem segundos de tão veloz. Aqui no meu quarto/casa, me perco entre criações, caixas, cartas, parede, moveis, anúncios, títulos, campanhas, desenhos, cadernos, blusas, vinis, relógios, receitas e mais caixas. Mente criativa, quanto mais Cri-Ativa, mais isso é outra pauta. Da moldura bege da minha caixinha azul, já vi sol forte, vento frio, brisa, mata, passarinho, chuva, tempestade, garoa, carro correndo, criança brincando, casal se agarrando e escola de samba. Já vi gato suicida, mulher de calcinha e pintor sem camisa, mas esses são personagens que ganharão destaque mais a frente. Hoje é dia da caixinha azul: meu quarto/casa. Sem tampa, a caxinha azul, um azul claro, capaz de deixar zen até a pessoa mais nervosa e tensa que existe, em 16 dias já teve cama de solteiro e mesa grande, colchão de solteiro sem cama com mesa grande e cama de casal sem mesa. Hoje se resume a vinil que virou criado-mudo, caixas que viraram estante e estante que virou mesa. E assim vou construindo aos poucos a caixa da vida, com trocadilhos. A caixa azul, tem uma moldura bege quadrada, a janela. Grande que me lembra infância na casa da tia nenês em Nova Era. Uma janela que se fecha na horizontal e isso é a primeira vez que vejo na vida, assim como pizza de Aliche e purê de batata no cachorro-quente. Em flash back, a janela da minha casa em belo horizonte era de madeira nem tão grande, nem tão pequena. Ela dava pra um muro cheio de bromélias e plantas. As vezes eu chegava perto dela pra olhar o tempo e saber o modelito do dia, outras pra ver a lua, outras por conta de algum barulho diferente mas eu nunca havia observado mesmo a janela. Os quatro cantos dela, um enquadramento. Sempre gostei das janelas com suas histórias de dentro  e de fora. Sim, porque uma janela nunca tem uma história só. Tampouco um só protagonista, é a única novela – encaro assim - onde espectador e protagonista trocam de papel conforme o lado do enquadramento, bem curioso por sinal já que é o enquadrado que escolhe o enquadramento. Você nunca sabe o que esperar de uma janela. Surpresa. Qual será a continuação do capítulo. É o Big Brother que não tem bial, nem prova do líder e muito menos 1 milhão de reais. Mas ainda assim, tem estalecas e prova de resistência.